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Igualdade de Gênero é essencial aos negócios

Empresas precisam entender que a igualdade de gênero e raça é boa para os negócios e a sociedade

 

Recentemente, a ABRH-SP firmou um memorando de entendimento com a ONU Mulheres, entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, que estabelece diferentes áreas de cooperação, como promover oficinas para sensibilizar os gestores de RH sobre temas como a importância da igualdade de gêneros para os negócios. Na entrevista a seguir, Nadine Gasman, representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil, fala sobre esse acordo de cooperação e sobre os obstáculos que ainda precisam ser vencidos para uma real equidade de gêneros no país.

GP –  De acordo com dados da PNAD divulgados recentemente, as mulheres brasileiras recebem, em média, 74,5% do rendimento dos homens. Esse número evoluiu muito pouco em relação à pesquisa anterior. O que tem de ser feito de fato para haja equidade salarial?

NG – As empresas têm de atuar para que seja quebrado o “teto de vidro”, corrigindo a desigualdade salarial, apoiando as mulheres para ascensão profissional, criando ambientes e mecanismos inclusivos para que as trabalhadoras não tenham de fazer a dura opção entre vida pessoal e profissional. A ONU Mulheres e o Pacto Global desenvolveram a plataforma “Princípios de Empoderamento das Mulheres”, composta por sete passos que as empresas têm de dar para promover mudanças exitosas dentro das corporações e influenciar positivamente cadeia de fornecimento, setor de negócio e comunidade. É importante que as empresas entendam que a igualdade de gênero e raça é boa para os negócios e para a sociedade. É esta a liderança que as companhias precisam assumir. É inadmissível que, por exemplo, uma trabalhadora negra receba, em média, 300% do que um trabalhador branco.

 

GP – Em pleno século 21, quais os preconceitos ainda enfrentados pelas mulheres no âmbito do trabalho?

NG As mulheres ousaram questionar escalas de valores de renúncia familiar e do mercado no momento em que afirmaram o seu desejo de atuar nessas duas frentes. São reações o preconceito e as pressões para que abrissem mão de uma área ou outra. E, felizmente, percebemos que a pressão das mulheres tem sido maior e obrigado as famílias e as empresas a negociar, repensar matrizes de funcionamento e se reorganizar. Embora gerações de mulheres tenham se sacrificado e nem mesmo tenham tido a chance de desfrutar melhores condições, percebemos que hoje novos arranjos têm sido possíveis para que elas possam se desenvolver pessoal e profissionalmente sem ter de abrir mão da sua satisfação. Isso passa, sobretudo, em novas relações com homens em que eles devem assumir as tarefas de cuidado.

 

GP – Como convencer as empresas de que a igualdade de rendimentos e oportunidades para as mulheres traz mais ganhos para os negócios? E como entidades como a ABRH-SP podem ajudar nesse processo?

NG – É preciso que as empresas assumam o papel de enfrentar o núcleo gerador e mantenedor das desigualdades. No Brasil, as mulheres têm mais anos de estudo do que os homens, mas ainda são menos remuneradas em torno de 30%. A situação se apresenta de maneira mais cruel, quando incluída a dimensão racial. Em 2010, o Perfil Racial, Social e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil, traçado pelo Instituto Ethos, revelou que a presença de negros e negras está concentrada na posição operacional (31%), reduzindo-se na medida em que os postos e os salários se tornam mais valorosos: 13% na gerência e 5% nas diretorias. Para as mulheres negras, a situação se torna mais perversa: apenas 0,5% nas posições executivas. Isso é um escândalo. Ainda recaem sobre as mulheres os cuidados com filhas e filhos, pessoas idosas e enfermas, além de toda a administração da vida doméstica. No mundo, a participação política alcança 25% e, no Brasil, as parlamentares são 11% do Congresso Nacional. Urge novo pacto entre Estados e sociedades que realmente elimine as desigualdades e reestabeleça novas práticas políticas, econômicas e sociais. Pela ONU Mulheres, enxergamos estes próximos 15 anos como janela de oportunidade para enfrentar as desigualdades e a nossa proposta objetiva é “Por um planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”. A liderança de Recursos Humanos é chave para a agenda de atração, retenção e promoção de pessoas, enfim gestão de pessoas e transformação cultural e de competências da liderança. A ABRH-SP é uma referência para essas discussões e estudos sobre gestão de pessoas, e trabalha em rede com a ABRH-Brasil e a ABRH de vários Estados. 

GP – O que a ONU Mulheres espera do memorando de entendimento firmado com a ABRH-SP?

NG Estamos confiantes de que, a partir da nossa parceria, a ABRH-SP incorpore internamente a perspectiva de gênero na sua relação com colaboradoras e colaboradores, assuma liderança em favor da igualdade de gênero junto a associados e fornecedores e seja influente no seu setor. Enxergamos a ABRH-SP como uma aliada do movimento ElesPorElas (HeForShe) que encoraje mais empresas a adotarem os Princípios de Empoderamento das Mulheres. A ABRH-SP tem potencial de colaborar para as transformações que o mercado de trabalho brasileiro necessita para que a igualdade seja reconhecida como um catalisador de crescimento para as empresas e para a pessoas. É por meio do diálogo com lideranças industriais, oficinas para sensibilizar gestoras e gestores de RH que a ABRH-SP pode colaborar para que a igualdade de gênero e raça seja uma realidade no Brasil em 15 anos.

 

 

GP – Qual o balanço do movimento HeForShe no Brasil?

NG O Brasil conta com 19 mil adesões, 4% do total das adesões mundiais que hoje somam 504 mil. Os homens brasileiros estão assumindo posição pública em defesa dos direitos de mulheres e meninas e refletindo sobre o próprio papel. Empresários e dirigentes de empresas, artistas, jogadores de futebol, torcidas, políticos, caminhoneiros, cidadãos comuns estão entendendo que precisam fazer parte da mudança que o mundo precisa. Como diz a embaixadora global da ONU Mulheres, Emma Watson: “Se não você, quem? Se não agora, quando?”

 

Fonte: Jornal Estadão – 29/11/2015

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