O debate sobre a Proposta de Emenda à Constituição 8/25, mais conhecida como PEC 6×1, extrapola a esfera do Congresso Nacional. A proposição que prevê mudanças no limite de 44 horas trabalhadas semanalmente com um dia de descanso para até 36 horas por semana, também tem merecido reflexões por parte da sociedade. As argumentações, que alternam os impactos na economia brasileira e a saúde do trabalhador, podem ser analisadas sob vários aspectos, na visão de Eliane Aere, presidente da ABRH-SP e CEO da Umanni. “Do ponto de vista econômico, o impacto depende de como a medida será implementada e do nível de preparação das organizações e dos setores produtivos”, afirma.
Para a presidente da ABRH-SP, reduzir a jornada de trabalho sem diminuir salários, como prevê a PEC 6×1, é uma medida que coloca o bem-estar do trabalhador no centro da agenda. “Com mais tempo disponível, as pessoas tendem a investir mais na sua saúde, no convívio familiar e social, e até mesmo em formação contínua”, observa Eliane Aere.
Dados recentes do DataSenado indicam que mais de 50% dos brasileiros consideram que uma carga horária menor melhoraria diretamente a qualidade de vida, especialmente no que diz respeito à saúde mental. “Na prática, o que vemos nas empresas é que um colaborador equilibrado emocionalmente, com tempo para descansar, pensar e viver, é também mais criativo, engajado e produtivo. Ou seja, há ganhos que vão além da produtividade por hora. Trata-se de um novo modelo de gestão de energia humana”, diz.
De acordo com estudo da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), o impacto econômico com a redução da jornada de trabalho poderia reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) nacional em até 16%. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, por sua vez, projeta queda no PIB entre 3,8% a 11,3%. “Mas esta é uma fotografia estática”, destaca Eliane. “Se considerarmos políticas de qualificação, inovação tecnológica, reorganização de processos e automação responsável, o impacto pode ser neutro, e até positivo no médio prazo. O desafio está em fazer a transição de maneira estratégica, não improvisada. Custos existem, mas há também o custo da inércia”, pondera.
A presidente da ABRH-SP destaca que muitas organizações já testam modelos mais flexíveis, com semanas de quatro dias ou carga horária reduzida em determinados períodos. “Nesse aspecto, as áreas de RH e gestão de pessoas têm um papel-chave. Elas podem mapear jornadas, ouvir colaboradores, redesenhar cargos e criar indicadores que valorizem não só a entrega, mas também a experiência do colaborador”, pondera.
Na visão de Eliane Aere, setores altamente automatizados e com foco em conhecimento, como tecnologia, consultoria, comunicação, tendem a ter mais flexibilidade para reorganizar jornadas. Por outro lado, indústria, comércio e serviços essenciais, que demandam presença física e escala, enfrentam desafios maiores. “Mesmo nesses casos há oportunidades. A redução pode vir acompanhada de rodízios, revezamentos e redistribuição inteligente das horas. A adaptação depende de diálogo com os trabalhadores, criatividade na gestão e apoio da liderança. Não é uma solução única, mas uma construção por setor.”
O impacto da redução de jornada na produtividade é um dos pontos mais discutidos no contexto da PEC 6×1. “Melhorar a produtividade não é apenas exigir mais do trabalhador individualmente. Na verdade, produtividade é um reflexo de todo o ecossistema organizacional: liderança, tecnologia, processos, cultura, modelo de gestão”, enfatiza a presidente da ABRH-SP.
O Brasil enfrenta gargalos históricos em infraestrutura, educação básica e qualificação técnica da força de trabalho. Além disso, muitas empresas ainda operam com processos pouco digitalizados, estruturas hierárquicas engessadas e baixo investimento em inovação. “As empresas que vêm se destacando são aquelas que adotaram metodologias ágeis, deram autonomia aos times, investiram em formação contínua e souberam integrar tecnologia com inteligência humana. A transformação é possível e começa por uma liderança que acredita no potencial das pessoas”, afirma.
Com a redução da jornada de trabalho, a tendência é que se criem novas vagas para manter a produtividade. Para Eliane Aere, essa é uma das grandes apostas positivas. “É natural que novas contratações sejam necessárias para cobrir as horas antes exercidas por uma única pessoa. Isso abre espaço para inclusão de novos talentos no mercado, com potencial para reduzir o desemprego e combater a informalidade”, diz. “É claro que isso depende de contexto, setor, e do equilíbrio entre custos e produtividade. Mas, se conduzido com responsabilidade, esse movimento pode, sim, gerar um ciclo virtuoso: mais emprego, mais engajamento e melhor distribuição de renda”, conclui a presidente da ABRH-SP.
Fonte: Assessoria de Comunicação da ABRH-SP ( 05, maio de 2025)