Se você já se perguntou por que é tão difícil controlar suas finanças pessoais, mesmo quando pensa que tem todas as informações necessárias, você não está sozinho. A verdade é que o cérebro não é uma máquina financeira racional, como gostaríamos de acreditar. E para entender por que isso acontece, recorremos a obra Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar de Daniel Kahneman.
Ele nos ensina que o cérebro é dividido em 2 sistemas de pensamento: o Rápido e o Devagar. O Rápido é impulsivo, emocional e suscetível a vieses cognitivos, enquanto o Devagar é lógico, analítico e ponderado. E adivinha qual sistema costuma guiar nossas decisões financeiras? O rápido, é claro!
O tempo todo tomamos decisões não racionais, através de heurísticas ou atalhos mentais, ignorando parte da informação para tornar a escolha mais fácil e rápida, principalmente quando estamos sob pressão. É um processo automático, inconsciente e sujeito a inúmeros vieses e erros.
E aqui está o problema: quando se trata de finanças pessoais, nossos vieses cognitivos frequentemente nos levam a fazer escolhas ruins. E essas más escolhas não afetam apenas nosso saldo bancário, mas também nossa qualidade de vida e nossos relacionamentos.
Pegue o exemplo do viés do presente. Esse viés nos faz valorizar mais as gratificações imediatas do que as recompensas futuras, levando-nos a gastar mais do que deveríamos no presente em vez de economizar para o futuro. Compra impulsiva é um exemplo. Compramos o que não precisamos em troca de uma satisfação imediata. Falta de planejamento financeiro é não economizar dinheiro para o futuro e gastar tudo no presente, criando dívidas e a sensação de que os sonhos são inalcançáveis.
Estamos cercados de armadilhas para gastarmos.
Já, o viés da ancoragem baseia-se em uma decisão rápida onde a primeira informação encontrada é uma âncora. Exemplo: Um produto caro parece atrativo quando anunciado pela metade do preço sem a informação de produtos similares com preços menores.
A falta de metas claras é uma armadilha comum que nos impede de fazer escolhas financeiras acertadas. Quando não sabemos o que queremos, vivemos o presente sem planejar o futuro, fica difícil economizar e investir de forma alinhada aos objetivos. Parece que estamos andando em círculos, sem nunca chegar mais perto de nossos sonhos financeiros.
Outro viés é a aversão à perda. Você apostaria R$100, podendo perder este valor, para ganhar R$150? A maioria das pessoas, não. E se o ganho fosse de 1 milhão, valeria a pena? Esse viés nos faz evitar riscos financeiros, mesmo quando os benefícios superam as perdas potenciais, impedindo investir de forma inteligente e aproveitar oportunidades que poderiam nos aproximar de nossos objetivos.
Já o viés de confirmação, incentiva as pessoas a permanecerem em sua zona de conforto e investir em produtos que já estão costumados, rejeitando novas estratégias de investimento. Por isso se investe em Poupança.
Então, o que podemos fazer para tomar decisões financeiras mais assertivas?
Precisamos reconhecer nossos vieses e aprender a lidar com eles, tomando decisões mais imparciais e lógicas. Ao avaliar as opções e suas consequências, teremos mais chances de tomar uma decisão que esteja alinhada com os objetivos.
Isso significa criar metas financeiras claras e alcançáveis. Ter um objetivo concreto, como economizar para uma casa, uma viagem ou a aposentadoria, pode nos ajudar a manter o foco e resistir à tentação do gasto impulsivo. Além disso, devemos aprender a equilibrar nosso sistema de pensamento rápido e devagar. Isso não significa eliminar completamente as emoções das finanças, mas sim garantir que nossas decisões sejam fundamentadas em informações sólidas e análises cuidadosas.
Por fim, é importante buscar educação financeira e, sempre que possível, aconselhamento profissional. Ele pode ajudar a traçar um plano financeiro sólido e oferecer orientação quando nos sentimos perdidos.
Nossos vieses podem dificultar nossas escolhas financeiras e fazer com que nossos sonhos pareçam inalcançáveis. Se deseja melhorar sua relação com o dinheiro e conquistar seus objetivos, lembre-se que com autoconhecimento, metas claras e educação financeira, podemos superar esses obstáculos e caminhar em direção a um futuro brilhante. Portanto, não subestime o poder de entender e controlar seus vieses para alcançar uma vida financeira mais próspera e satisfatória.
Sucesso financeiro começa com consciência e ação!
Artigo escrito por José Roberto Falcone e Roseli Falcone Ramos participantes do Grupo de Estudos “Neurociência&Resiliência” da ABRH-SP.
(São Paulo, 11 de março de 2024)