Os líderes sabem o quanto a falta de saúde mental no mundo tem impactado no exercício de gestão das pessoas. A equação equilibrada entre ações de direcionamento e de apoio, preconizada pela Liderança Situacional de Blanchard (Liderança de Alto Nível), dentre outras metodologias, tem sido difícil de ser alcançada em ambientes organizacionais permeados por altos níveis de estresse e com diferentes níveis de amadurecimento profissional. São evidências deste ambiente complexo: economia líquida e volátil, população intergeracional, diversidade de níveis de consciência e motivações, dentre outros fatores já exaustivamente debatidos na atualidade.
Neste artigo, o foco central será sobre as dificuldades internas do líder no que tange a robustez de estrutura emocional necessária, além das soft skills para performar e ser capaz de compreender e atender as diferentes psicodinâmicas das equipes e organizações.
Qual a força interna necessária para ser capaz de: motivar e inspirar, lidar com mudanças, gerenciar conflitos, criar cultura de confiança (mantenedora das conexões sustentáveis) e cultivar clima de segurança psicológica, que inclui administrar a fragilidade e os riscos interpessoais do time?
A primeira e mais importante condição está na sustentabilidade do indivíduo, por meio da conquista da coesão interna, materializada através de comportamentos de total fidelidade aos seus valores e crenças para “fazer o que fala”. Neste proceder, a conquista das relações de confiança extrapolam o referencial das hard skills, exigindo condições de caráter do líder. Segundo Richard Barrett (A Organização Dirigida por Valores), a “Anatomia da confiança tem dois principais componentes: o caráter e a competência. Caráter é o reflexo do que se é por dentro enquanto competência é o reflexo do que se é por fora”.
A coesão interna, pode ser percebida através de atitudes de cuidado, transparência e abertura, somada a integridade, expressa por atitudes de honestidade, imparcialidade e autenticidade. Resultante destes padrões saudáveis de relacionamento, temos a coesão externa, reverberada por meio das conexões estabelecidas, através das alianças mutuamente benéficas para todos os envolvidos. Isto é o que Barrett classifica como o sexto nível de consciência: “Fazer a diferença no mundo”. Ou seja, ir em direção ao cumprimento do propósito por meio do alinhamento com o verdadeiro EU e ao mesmo tempo colaborar com os outros em um propósito compartilhado para um bem maior.
A conquista desta disposição em servir a humanidade, é o reflexo da “Unidade”, típica do nível mais elevado da consciência.
A questão central para a conquista da ascensão da consciência está no autoconhecimento, através da busca do entendimento do mundo interno.
Para percorrer esta trajetória, apresentamos a psicologia Junguiana como orientadora de novas perspectivas de autoconhecimento, frente à necessidade de soluções profundas e transformadoras. Realizando o importante exercício de acessar os conteúdos inconscientes que na maioria das vezes nos governam para, aos poucos e de forma acolhedora, integrar o eixo ego-Self. Trata-se de conquistar um bom senso entre o que somos para nós, “dentro de nós” e o que somos para os outros (nossas personas sociais).
Jung define esses opostos como sombra e persona, como sendo duas forças antagônicas que vivem dentro de nós. Os conteúdos que o ego rejeita tornam-se sombra e estão sempre em oposição às personas. As personas são criadas em nosso processo educacional, que nos ensina quais são os comportamentos aprovados pelo social. Então, para ser aprovado pelo social, o indivíduo passa a “funcionar” de acordo com o esperado e não como acredita e gostaria de ser. Dialogar com esses conteúdos, para ir fazendo “acordos” entre essas partes internas que estão brigando, é essencial para a conquista da coesão interna.
Esta tomada de consciência, permite separar os conflitos pessoais dos conteúdos dos outros indivíduos, gerando autorresponsabilização, ganho de autonomia e autenticidade, expandindo a capacidade em estabelecer conexões genuínas.
Nominamos estas habilidades como “Competências do Self”, que corroboram com a performance do “Líder Self”. Esta é a nossa proposta inovadora para a conquista da força interna, imprescindível para o enfrentamento dos imensos desafios contemporâneos.
Artigo escrito por Maristela S. Prado participante do Grupo de Estudos “Saúde, Bem-estar e Felicidade nas Organizações” da ABRH-SP.
(São Paulo, 04 de março de 2024)