O cenário contemporâneo, marcado pela complexidade e rapidez das transformações tecnológicas, vai além da simples resolução de desafios técnicos com soluções conhecidas. A exposição contínua a essas mudanças pode resultar na Fadiga da Mudança (Change Fatigue). A Liderança Adaptativa surge como um conjunto de competências para enfrentar questões complexas, formando, junto à Fadiga da Mudança, um Ciclo Virtuoso que transforma exaustão em resiliência durante transformações contínuas. Compreender esses conceitos interligados é fundamental:
– Fadiga da Mudança é definida como um estado de exaustão mental e emocional, apatia e desengajamento causado pelo esforço de se adaptar a constantes demandas de mudança (Bernerth et al., 2011) – ver Tabela 1 a seguir.
Tabela 1 – Sintomas e Impactos da Fadiga da Mudança
Sintoma | Descrição | Impacto |
Exaustão | Cansaço visível, esgotamento físico e emocional, fadiga persistente, burnout. | Baixa produtividade, absenteísmo, perda de bem-estar. |
Cinismo | Negativismo, indiferença, desilusão. | Desmoralização, apatia, ambiente tóxico. |
Desengajamento | Pouco envolvimento, demissão silenciosa e alienação. | Baixa produtividade, perda de motivação, falha na mudança. |
Frustração | Desânimo, irritabilidade. | Clima organizacional negativo. |
Impotência | Sensação de falta de controle. | Apatia, redução da iniciativa. |
– Liderança Adaptativa é a habilidade de mobilizar pessoas para enfrentar desafios complexos e inesperados, promovendo flexibilidade (Heifetz et al., 2009). Um pilar fundamental é a capacidade de diferenciar desafios técnicos (com soluções conhecidas) de desafios adaptativos (aqueles que exigem mudanças culturais e comportamentais, aprendizado coletivo e que podem sofrer resistências).
Tabela 2 – Ações da Liderança Adaptativa e Seus Propósitos
Ação | Propósito na Gestão da Mudança e Mitigação da Fadiga |
Distinguir problemas técnico x adaptativos | Garante abordagem correta, reduz frustração. |
Manter tensão produtiva | Mobiliza para aprendizado e inovação. |
Ir para a “varanda” (get on the balcony) | Obtém perspectiva estratégica. |
Dar o trabalho de volta | Empodera equipes, fomenta autonomia. |
Proteger vozes desviantes | Fomenta segurança psicológica, criatividade. |
Regular o estresse | Promove bem-estar, resiliência. |
O Ciclo Virtuoso: Liderança Adaptativa e a Mitigação da Fadiga da Mudança
A liderança adaptativa pode transformar os desafios em oportunidades por meio de um fluxo circular de processos contínuos, ciclos de feedback positivo e sistemas de auto reforço.

Figura 1 – Ciclo Virtuoso da Liderança Adaptativa na mitigação da Fadiga da Mudança
Fonte: Elaborado pelos autores
- Fase 1- Desafio Adaptativo. Operacionalizar diagnósticos precoces.
- Fase 2- Intervenção da Liderança Adaptativa. Elevar a perspectiva discernindo padrões sistêmicos, diagnosticar desafios adaptativos e regular o estresse, transformando exaustão em resiliência organizacional.
- Fase 3- Resultados e Ciclo Virtuoso: A organização transcende a fadiga, movendo-se para aprendizado aprimorado e engajamento ativo. Como resultados a resiliência, inovação e crescimento levam de volta para a fase de Desafio Adaptativo, levando a um ciclo virtuoso sustentado.
No Ciclo Virtuoso, os Recursos Humanos desempenham papel essencial ao adotar estratégias integradas, como:
- Desenvolver líderes adaptativos com treinamentos em inteligência emocional, diagnóstico de desafios, tensão produtiva e regulação do estresse (Heifetz et al., 2009).
- Criar uma cultura organizacional resiliente, promovendo confiança, segurança psicológica, comunicação aberta e experimentação.
- Gerenciar proativamente a carga de mudança, avaliando impactos, alocando recursos, garantindo integração e mantendo transparência.
- Monitorar continuamente bem-estar, engajamento e produtividade, utilizando feedback e o ciclo PDCA para otimizar processos.
Este artigo demonstra que a liderança adaptativa emerge como a resposta estratégica à fadiga da mudança, percorrendo um ciclo virtuoso em que a intervenção dessa liderança pode mudar um estado de exaustão para outro de resiliência na transformação contínua.
REFERÊNCIAS
BERNERTH, J. B. et al. Change fatigue: Development and initial validation of a new measure. Journal of Applied Behavioral Science, v. 47, n. 3, p. 329-351, 2011.
HEIFETZ, Ronald A.; GRASHOW, Alexander; LINSKY, Marty. The practice of adaptive leadership: tools and tactics for changing your organization and the world. Boston: Harvard Business Press, 2009.
