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Breve introdução histórica sobre Resiliência no contexto científico

Abordar o tema resiliência requer, inicialmente, mencionar a distinção do termo que habitualmente se conceitua no senso comum, sobre a capacidade de enfrentar adversidades e retornar ao estado anterior, muito propagado utilizando-se um conceito da Física – voltar ao estado anterior ou normal após um forte impacto. 

Na verdade, a resiliência  com o enfoque científico, de acordo com a teoria conhecida como “Abordagem Resiliente”, deve ser compreendida como a capacidade humana de lidar de forma estratégica em seus processos mentais e enfrentamentos nos processos de tomada de decisão, no que tange a superação de obstáculos, desafios e adversidades em situações de elevado stress emocional.

Ainda, um segundo aspecto importante sobre o tema resiliência no âmbito científico, é compreender os estudos e as pesquisas que deram sua origem e que norteiam o seu desenvolvimento, a partir da década de 1950, as quais podem ser denominadas de ondas da Resiliência.

A primeira onda, delimita-se de 1950 até por volta de 1965, tendo como precursoras as professoras em Psicologia do Desenvolvimento Emy E. Werner e Ruth Smith, em um estudo longitudinal por 30 anos com trabalhadores de plantações de cana-de-açúcar e abacaxi em fazendas localizadas no Havaí, acompanhando 700 crianças em entrevistas periódicas.

Os resultados desse estudo foram alocados em três aspectos diferentes quanto ao desenvolvimento humano, a saber: 1) parte da amostra pesquisada adaptou-se a sociedade, 2) parte da amostra foi afetada por doenças e inadequações comportamentais e, 3) parte da amostra desenvolveu graves doenças ou problemas com dependência química (álcool ou drogas). Ainda, sem conclusões contundentes sobre o que determinaria a diferença na resposta as adversidades, poder-se-ia inferir que alguns elementos como o ambiente relacional, psicológico e emocional contribuíram para que parte da amostra se adaptasse às condições e às outras duas partes não, corroborando a ideia de que alguns indivíduos conseguiam superar desafios e o stress. Esta primeira onda se caracterizou pela ideia de a resiliência ser genética e as pessoas serem invencíveis.

Em 1959, o professor e psiquiatra Aron Temkin Beck realizou estudos sobre a estrutura dos esquemas de crenças, que seriam posteriormente, definidos como as bases das pesquisas em Psicologia Cognitiva e, sua contribuição no enfrentamento das adversidades, a partir da modificação do comportamento e do pensamento disfuncional.

Dos desdobramentos dos estudos, delimita-se a segunda onda, que compreende o período de, aproximadamente, 1966 a 1984, tendo como expoentes Frederic Flach e Michel Rutter. Flach, psiquiatra e autor do livro “A Arte de Ser Flexível”, que desenvolveu a partir da teoria de Hans Seyle sobre a dinâmica do stress (alerta, resistência e exaustão), o conceito de Resiliência como forças psicológicas e biológicas que atuam no sucesso do indivíduo as mudanças que ocorrem durante a vida. Já Rutter adicionou o elemento do tempo de exposição ao stress como condicionante do grau de risco que pode acarretar aos indivíduos. As principais conclusões das pesquisas e estudos da segunda onda apontaram para a contribuição do ambiente (meio) como um determinante importante além da hereditariedade.

Na terceira onda, a evolução da Psicologia Cognitiva enfatizou os aspectos que estruturam o pensamento e as crenças diante das adversidades, considerada a fase das abordagens cognitivas no campo da resiliência. A Dra. Edith Grotberg desenvolveu projetos sobre o desenvolvimento da resiliência em crianças e adolescentes em projetos internacionais pela ONU, em particular na África, como o objetivo de promover ruptura do modelo de crenças e instalar um novo modelo 

Ainda se destacaram pesquisadores dos EUA e Europa, como Andrew Shatté & Karen Keivich,  Martin Seligman, Michael Ungar, entre outros pelo desenvolvimento de pesquisas que abordaram diretamente o tema resiliência ou tangenciaram com aspectos correlacionados, tais como o otimismo e pessimismo do prof. Seligman; e motivação, resiliência e desempenho dos doutores Shatté e Keivich. No Brasil, a partir de 2006 temos as pesquisas e trabalhos na SOBRARE orientados pelo doutor George Barbosa.

A quarta onda está vigente desde 2001, com estudos relacionando a Neurociência, a partir do mapeamento das estruturas do pensamento e memória, com a resiliência. O avanço das tecnologias de exames de imagem (Ressonância e Tomografia) possibilitam a identificação das conexões cerebrais estimuladas por meio de eletrodos que permitem analisar o acionamento das áreas do cérebro e os possíveis comportamentos influenciados. 

E, concluindo, podemos ver a resiliência em seu percurso e avanço com as neurociências. Países como EUA, França e Canadá encontram-se mais desenvolvidos nas pesquisas tendo como orientação as neurociências.

São Paulo, 10 de junho de 2024.

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