*Por Jorgete Leite Lemos
Protagonismo negro ainda não é a realidade presente em nossa sociedade, mas está cada vez mais próximo o momento de os negros assumirem os papéis que lhes são devidos, e será pela competência.
O gap educacional, social e econômico que a população negra arrasta por séculos em nosso país desde que aqui chegaram seus antepassados, escravizados, vem sendo reduzido, ainda que lentamente, pela educação heutagógica, processo educacional no qual o estudante é o único responsável pela aprendizagem, decidindo onde, como e quando acessar os mais diversos saberes; assim, quanto mais proprietários do saber, mais proprietários de suas vidas e carreiras, mais autonomia, mais liberdade e respeito.
A evolução pela educação é irreversível e está sendo alavancada pela nova geração negra, conhecedora da história de sua origem, orgulhosa por se autoidentificar com o poder econômico que representa, e pelo poder que, a partir desse fator, o econômico, incorpora.
Segundo pesquisa desenvolvida pelo Instituto Locomotiva, “o Brasil negro seria o 11º país do mundo em população e o 17º em consumo. Se os negros formassem um país, estariam no G20 do consumo mundial”. Essa nova geração negra, que tem orgulho de ser como é e apresenta a estética negra libertada do eurocentrismo, abre mão conscientemente do branqueamento, o que as gerações anteriores já vinham há muito experimentando, mas, sem o auxílio de valiosos aliados – a mídia e a internet –, não alcançavam os resultados de disseminação alcançados hoje.
É um orgulho poder conviver com essa jovem geração negra que produz conhecimento e se expressa, conceitual e tecnologicamente, por meio da literatura, do cinema, das artes em geral, e, com paciência e didatismo, conta a verdadeira história negra, ocultada há séculos da sociedade.
A contribuição e o valor agregado deixados pelos negros à nossa sociedade não são mencionados. Assim sendo, como podemos hoje ter o respeito e a admiração dessa mesma sociedade? A repetição das informações sobre a escravatura, sobre a dominação e desrespeito de toda ordem sofridos pelos negros, parece nutrir o afastamento entre negros e não negros, intermediados por uma culpa intangível e pelos vieses inconscientes que a justifica.
A partir de agora, convido a todos, de todas as raças e etnias, a usarem esse espaço de tempo, o dia 20 de novembro, tradicionalmente destinado à reflexão sobre a importância da inclusão do negro na sociedade, para refletir e agir de acordo com a velocidade do mundo atual, que não espera mais longas reflexões sem ações rápidas, que nos permitam realinhar comportamentos, atitudes e vieses inconscientes ao novo perfil do negro – protagonista.
Proponho também abandonarmos a visão “nós e os outros” e racionalmente alinharmos essa visão para apenas “nós”, que estamos à deriva e precisamos corrigir a trajetória ante a finitude dos valores e de nossa sociedade.
A abordagem Dia da Consciência do Protagonismo Negro é consequência da nossa inferência e escolha de redirecionar o foco para o que a raça negra tem de potencial a ser reconhecido. E não anula a convicção do quanto todas as perdas passadas e ainda presentes só servem para impulsionar, cada vez mais forte, a necessidade de demonstrar o valor e o desperdício que lutam na mente de quem ainda não se deu ao direito de despertar para a nova realidade que está em construção e se efetivará em breve.
Este posicionamento é uma contribuição da ABRH-Brasil aos compromissos firmados pelo nosso país com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e as metas estabelecidas pela ONU para a Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), da mesma forma que é a efetivação do comprometimento da própria ABRH como signatária da Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero.
*Diretora de Diversidade ABRH-Brasil e diretora executiva da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços
Fonte: O Estado de São Paulo, 16 de Novembro de 2017.
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