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Recomeçar melhor: o ESG conectado ao cenário econômico

Como parte das comemorações do Dia do Profissional de Recursos Humanos, celebrado em 3 de junho, a ABRH-SP realizou a Semana do RH, com o tema central Desmistificando o ESG (Environmental, Social and Governance). O objetivo foi mostrar como o RH pode contribuir para as metas de ESG no mundo do trabalho. Ao todo foram realizados, na semana passada, seis webinars, 100% online e gratuitos para associados e não associados. 

 

Na abertura do evento, Silvio Dulinsky, head Business Engagement Latin America do Fórum Econômico Mundial, apresentou uma visão macro do ESG conectado ao cenário econômico. Segundo ele, desde a crise econômica de 2007, percorremos um longo caminho na mobilização das empresas para serem uma força para o bem. 

 

“Não se aceita mais a atitude de que não importa como a gente faz lucro desde que seja legal. A sociedade hoje se preocupa com a maneira como as empresas conduzem os seus negócios, qual é o impacto delas no mundo”, enfatizou. Confira, a seguir, algumas das principais reflexões do palestrante.

 

As empresas como parte da solução dos problemas

Silvio ressaltou os muitos problemas do mundo atual, cada vez mais complicados e interconectados: acesso à água, mudanças climáticas, perda de biodiversidade, desafios aos direitos humanos, polarização da sociedade, escassez de talentos... Muitos deles, na visão do executivo, não são novos. A diferença é que agora há muito mais consciência da existência deles e do impacto nas nossas vidas. 

 

“Muitas vezes as pessoas veem as empresas como a fonte de vários desses problemas e não a solução para eles. Em muitos casos, com razão. Inúmeras delas realmente pioram os problemas, mas, ao mesmo tempo, a maioria desses problemas não pode ser resolvida sem o setor privado. Ao lidar com esses problemas, estamos fazendo progressos incrementais, pequenos passos na direção certa. O desafio é como escalar essas soluções para alcançar um impacto sistêmico. Para isso, a gente precisa de recursos, do alcance, do talento, do dinamismo, da capacidade de inovação que somente as empresas podem trazer para a mesa.

 

Entretanto, para aproveitar esse imenso pool de recursos, precisamos que a solução desses problemas seja rentável. Isso vai permitir que elas sejam escaláveis e multiplicáveis. A maneira tradicional como os líderes costumam abordar essas questões era de soma zero. Se as empresas tentassem resolver os problemas da sociedade, ganhariam menos dinheiro; se quisessem melhorar as condições de trabalho, reduzir as emissões de poluentes ou evitar o esgotamento de recursos naturais, pagariam um preço na linha de resultado. 

 

Aqui há uma mudança fundamental de paradigma. Está na hora de a gente acabar com a falácia de uma suposta inconsistência entre sustentabilidade e criação de valor para os acionistas. Temos casos fantásticos de empresas que estão alavancando sustentabilidade de uma maneira estratégica para garantir uma geração de valor para todos os stakeholders, incluindo os acionistas. As organizações mais admiradas são aquelas que buscam resolver os maiores desafios da humanidade, de maneira responsável, sustentável, ágil e eficiente. Mas para isso a gente precisa de líderes e empresários comprometidos com a visão de uma governança corporativa que permita tomar decisões corajosas e com uma visão de longo prazo.”

 

Capitalismo de stakeholders

Na avaliação do palestrante, estamos no início de uma nova década em que temos de construir um sistema econômico capaz de reparar um planeta doente, e as empresas têm uma enorme responsabilidade nesse processo. 

 

“Nos últimos dois, três anos, temos percebido uma atenção maior ao conceito de capitalismo de stakeholders. Defendemos esse conceito no Fórum Econômico Mundial desde os anos 1970. Precisamos do compromisso dos líderes empresariais para tornar esse capitalismo de stakeholders uma realidade global, que permita que as empresas continuem a ser um motor de desenvolvimento econômico e da sociedade como têm sido nos últimos 150 anos. A diferença é que dessa vez tem de ser em linha com valores de uma sociedade do século 21. 

 

Na natureza só existe um tipo de liderança, que é a dominação, mas as pessoas criaram outro sistema, baseado na confiança. Esse modelo, no entanto, exige um líder que seja capaz de estabelecer um propósito que canalize a força criativa das pessoas para resolver problemas delas e do planeta. Um propósito apoiado por uma cultura corporativa, de processos, métricas, entre elas o ESG, que norteiam as decisões das organizações. Se conseguirmos que essa maneira de liderar seja adotada pelas principais empresas globais, e pelas cadeias de valor que elas realmente podem influenciar, teremos uma reorientação do capitalismo.”

 

Consequências da pandemia

De acordo com Silvio, no início da pandemia havia muita preocupação de que a agenda de sustentabilidade fosse colocada em segundo plano, mas depois de algum tempo observou-se um forte impulso para uma reconstrução verde e socialmente inclusiva. 

 

“A mudança que a pandemia trouxe fez com que voltássemos a nos conectar com o essencial da nossa existência. É importante aproveitar esse momento para refletir qual sociedade queremos construir. O mundo que a gente quer ter daqui a uma década exige decisões ousadas hoje. Como líderes empresariais, não podemos abordar esse desafio com uma mentalidade de soma zero. Temos de incorporar as partes interessadas nesse processo de tomada de decisão. E criar empresas que não só não fazem mal, mas têm um papel regenerativo na construção de uma sociedade melhor. 

 

Como o mundo vai ser depois da pandemia? Em geral, há muita especulação, mas podemos falar de algumas tendências com uma certa segurança e de outras como razoavelmente possíveis, como:

 

  • aceleração dos processos de digitalização;
  • aumento dos níveis de dívida pública e privada;
  • encurtamento das cadeias de fornecimento;
  • polarização política;
  • padrões de consumo mais sustentáveis;
  • importância maior do ESG e da discussão do papel das empresas na sociedade; e
  • no nível da geopolítica, a rivalidade entre países em alguns campos em que tradicionalmente havia colaboração.” 

 

Novas formas de engajamento

Como ele explicou, com a transformação digital, novas formas de engajamento estão surgindo na medida em que a tecnologia ajuda a unir as pessoas de uma maneira muito mais inovadora e com números significativos. 

 

“Isso é um processo bastante amplo e complexo que está produzindo uma diluição geral das hierarquias à medida que a digitalização reorganiza as estruturas tradicionais de poder. O poder que ficava com o CEO agora é compartilhado com uma multidão de pessoas que interagem diariamente com a empresa, como consumidores, fornecedores, mídia, comunidade, etc. Essa multidão tem os meios e a vontade de mudar o cenário operacional do negócio de uma empresa. Portanto, para as organizações, se engajar com essa comunidade se torna cada vez mais a espinha dorsal do sucesso. Isso é uma consequência direta de todo esse processo de transformação digital da sociedade.”

 

Métricas de ESG

Se resolver os problemas estruturais for de interesse dos investidores, disse Silvio, a chave para implementar essas mudanças é encontrar uma maneira de demonstrar e quantificar que fazer a coisa certa também é lucrativo. Isso vai permitir que os investidores entendam objetivamente quais são as consequências da criação de valor compartilhado.

 

“As métricas de ESG realmente apontam nessa direção. A oportunidade é possibilitar de uma maneira mais eficaz uma realocação de recursos para uma economia muito mais sustentável, inclusiva e de baixo carbono. Isso permite às empresas que estão alinhadas com o propósito de exercer um papel regenerativo na sociedade, atrair novas fontes de capital e ter acionistas que vão apoiar essa visão de longo prazo. Porém, as empresas têm que agir rápido. É muito importante o senso de urgência. 

 

Nos próximos dez anos vai acontecer uma transferência gigantesca de poder econômico e político para a próxima geração. E isso especialmente me deixa muito otimista. Trata-se de uma geração que tem um engajamento social, ético e ambiental muito maior do que a minha. As expectativas deles de negócios como consumidores, investidores, reguladores, funcionários, líderes também são muito diferentes e mais exigentes. Agora, se não enfrentarmos os desafios, a crise social vai se intensificar e levar a uma polarização ainda maior com mais tensões. Cabe a todos nós que a tragédia humana e econômica não seja o único legado dessa crise. No Fórum Econômico Mundial, a gente diz que não se trata de começar do zero, mas recomeçar melhor.”

 

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