Brain rot: um desafio estratégico em gestão de pessoas

Sempre no final do ano, a equipe do Oxford English Dictionary escolhe a palavra que define os últimos 365 dias. Após 37 mil votos do público ao redor do mundo, o termo escolhido em 2024 foi brain rot. Segundo a editora Oxford University Press, que publica o dicionário, a expressão define “suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa, especialmente vista como resultado de consumo exagerado de materiais considerados triviais e sem desafios”. Brain rot, ou “apodrecimento do cérebro” em português, é um adjetivo que caracteriza essa deterioração mental. A sensação de estagnação cognitiva é mais presente do que se imagina no cotidiano profissional e tem se tornado uma preocupação estratégica em gestão de pessoas.

A palavra brain rot existe desde o século 19. Aparece pela primeira vez no livro Walden, escrito em 1854 por Henry David Thoreau. Mas foi no século 21 que conquistou popularidade nas redes sociais. O termo combina o impacto de atividades repetitivas e o consumo de temas sensacionalistas ou, na maioria das vezes, sem importância como conteúdo de informação.

Em um mundo ocupado de forma cada vez mais expressiva pelas telas, não se pode ignorar que a criatividade, o pensamento crítico e a saúde podem estar sob ameaça.

Ao contrário do que se possa imaginar, o brain rot não se “instala” apenas pelo consumo de conteúdos em redes sociais. No universo do trabalho, o modelo de trabalho remoto contribui para manter os profissionais ainda mais conectados ao notebook e ao smartphone. Videoconferências, notificações a todo instante, entre outras situações rotineiras, estão associadas a uma extenuante atividade mental de pouca profundidade que pode se encaminhar para uma condição assemelhada ao brain rot.

Como resultado, a fadiga das telas tende a desencadear distúrbios físicos, mentais e emocionais, com potencial para comprometer a eficiência e o engajamento profissionais.

A prevenção e mesmo a “reversão” do brain rot requerem mudanças estratégicas por parte da empresa. Um bom começo é a leitura, atividade essencial ao desenvolvimento humano, que deve ser estimulada como prática prioritária pela gestão de pessoas. Conteúdos de alta qualidade, consumidos diariamente por cerca de 30 minutos, podem ampliar o foco e a capacidade de raciocínio.

Como estratégia, o profissional pode também, a cada duas horas, desconectar-se por cinco minutos das telas. Este curto período promove a renovação da energia mental, ainda mais se acompanhado da prática de respiração profunda.

O brainstorming com sessões programadas para solucionar problemas específicos e a transformação de tarefas rotineiras em jogos contribuem para estimular a criatividade, ao mesmo tempo que motivam as equipes. A criação de um ambiente que incentive grupos de estudos para troca de ideias também é estratégica para evitar o brain rot.

Ao longo das duas décadas, o Oxford English Dictionary elegeu palavras do ano como podcast, selfie e pós-verdade. Em gestão de pessoas, os esforços estratégicos devem convergir para que brain rot seja banida da realidade das empresas para se tornar uma mera palavra entre centenas de milhares do dicionário.

Fonte: Assessoria de Comunicação da ABRH-SP (16, dezembro de 2024)