Levantamento realizado pela Fundação Seade, entre o 4º trimestre de 2017 e o mesmo período de 2024, revela que em todos os anos avaliados as mulheres foram menos remuneradas que os homens. Para Katia Carlini, vice-diretora regional da ABRH-SP Regional Campinas, na análise há que levar em consideração questões históricas e geracionais, que contribuem para o entendimento da discrepância salarial apresentada pela pesquisa.
No relatório apresentado pela Fundação Seade, uma das fontes de dados é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Realizada pelo IBGE, tem a proposta de produzir continuamente informações sobre mercado de trabalho associadas a características demográficas e educacionais.
O levantamento mostra que o rendimento médio por hora recebido pelas mulheres aumentou 2,1% e o dos homens cresceu 4,5% entre o 4º trimestre de 2023 e o de 2024. Em 2019, no período pré-pandemia, a remuneração por hora das mulheres correspondia a 86% dos homens. No 4º trimestre do ano passado, caiu para 83%.
“Historicamente, os homens estão há mais tempo nas empresas. À medida que os anos foram passando, eles construíram suas carreiras até chegarem a postos de liderança, que são mais bem remunerados”, observa Katia Carlini. “As mulheres, por sua vez, priorizaram a família, chegando às organizações mais tarde e ocupando cargos com salários menores”, completa.
Para a vice-diretora da ABRH-SP Regional Campinas, há um fator geracional que não deve ser descartado na diferença de remuneração entre homens e mulheres. “Acredito que quando o mercado de trabalho for ocupado predominantemente pela geração Z, com maior participação feminina, devemos ter uma curva salarial mais igualitária”, diz.
Embora existam discrepâncias, como as reveladas pela pesquisa da Fundação Seade, Katia vem acompanhando ações colocadas em prática por empresas com a finalidade de equiparação salarial entre gêneros. “Muitas organizações têm investido em programas para o desenvolvimento de carreira de talentos femininos”, pontua. A vice-diretora regional também destaca que algumas empresas “têm meta de cadeiras ocupadas por mulheres nos níveis de liderança”. Para isso, vêm aperfeiçoando competências das profissionais para que sejam promovidas.
Disparidade global
No momento em que a Fundação Seade divulga um relatório em que são apontadas discrepâncias de salários para mulheres e homens, a 69ª sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW, na sigla em inglês), maior reunião anual da Organização das Nações Unidas sobre igualdade de gênero e empoderamento das mulheres e meninas, enfatiza no discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres, a necessidade de superar obstáculos para a construção de sociedades mais equitativas e representativas.
“Embora haja entre os participantes da CSW o reconhecimento de que houve avanços mundiais em direção a maiores oportunidades de educação para meninas e oportunidades para as mulheres, as lacunas para uma sociedade mais justa ainda persistem”, observa Roberta Nunes Barbosa, gerente executiva de Regionais da ABRH-SP.
Globalmente, segundo discurso de Guterres, a disparidade salarial de gênero ainda é de 20%. “A queda da participação das mulheres no mercado de trabalho foi agravada, pontualmente, durante a pandemia de Covid-19”, destaca Roberta. “Como agravante, temos os recentes desastres climáticos, que afetam mais duramente as mulheres, e os conflitos em ascensão ao redor do mundo”, completa.
Como consenso na 69ª CSW, participantes dos países-membros da ONU, representantes da sociedade civil, de governos e do setor privado enfatizam que a garantia de educação de qualidade para meninas abre portas para oportunidades de trabalho digno para mulheres, “impulsionando o crescimento econômico e fortalecendo economias”.
Sob a perspectiva das empresas, Katia Carlini e Roberta Nunes Barbosa reforçam a importância dos investimentos em programas para aperfeiçoamento da carreira das mulheres. “A partir desses esforços, é possível que as estatísticas se revertam, revelando a tão desejada equiparação salarial entre gêneros”, finaliza Katia Carlini.
Fonte: Assessoria de Comunicação da ABRH-SP(17, março de 2025)