Em 2014, inspirado em campanhas como Outubro Rosa e o Novembro Azul, associadas a cores para conscientizar a população sobre a saúde, o psicólogo mineiro Leonardo Abrahão criou o Janeiro Branco. A iniciativa tem por objetivo promover o debate sobre saúde mental e emocional, tema de grande relevância, muitas vezes negligenciado não apenas no contexto da saúde pública, mas também como realidade nas empresas e no cotidiano das pessoas.
O Janeiro Branco organiza suas atuações em educação emocional, com o propósito de conscientizar sobre o impacto das emoções e dos pensamentos na saúde geral, na quebra de tabus, como forma de combater preconceitos que envolvem os transtornos mentais e o acesso a tratamentos psicológicos. Também visa promover políticas públicas para que governos e instituições desenvolvam ações de apoio à saúde mental. A prevenção de transtornos mentais, como ansiedade, depressão e burnout, é outro campo de ação da campanha.
Ao longo dos anos, a iniciativa vem se ampliando em importância por meio de ações comunitárias, palestras, rodas de conversa, eventos em empresas e instituições de ensino, além de campanhas digitais nas redes sociais. Tornou-se referência nacional e ganhou relevância internacional, chamando atenção para os determinantes sociais da saúde mental, como desigualdades, condições de trabalho e acesso à saúde.
Desde a criação, o Janeiro Branco tem mobilizado parcerias com profissionais da saúde, que participam ativamente, oferecendo palestras, rodas de conversa e atendimentos. Nas empresas, ações internas conscientizam os colaboradores sobre a importância do equilíbrio emocional. No âmbito do governo e da sociedade civil, a campanha pautou discussões em câmaras municipais e iniciativas de políticas públicas.
Como facilitadora de segurança psicológica de times, consultora de saúde corporativa, bem-estar e desenvolvimento humano, a psicóloga Gisele Caleffi observa que o grande desafio da campanha Janeiro Branco é transformar a agenda simbólica da data em uma pauta permanente, que se estenda de janeiro a janeiro. “Mais do que os lacinhos brancos e as ações pontuais, é essencial que políticas públicas e práticas corporativas sejam desenvolvidas com foco na prevenção e promoção da saúde mental, permeando a cultura da organização”, afirma.
Fazer terapia, praticar exercícios físicos, regular o tempo de telas, ter sono de qualidade e adotar práticas que auxiliem na redução do nível de estresse agudo, como meditação, leitura, exercícios de respiração, atividades manuais e artísticas (criativas), são estratégias recomendadas pela psicóloga. “Além disso, estimular ações compartilhadas de cuidado, que evoquem a sensação de pertencimento social, como ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário, e estabelecer contato com a natureza também são importantes. No entanto, essas práticas não substituem a ajuda médica e medicamentosa, se necessário”, pontua.
Na visão de Patricia Pessoa Pousa, executiva de Recursos Humanos e doutora em Saúde Mental, com o apoio de profissionais e instituições a campanha ajudou a popularizar as discussões no Brasil. “Hoje, a saúde mental está mais integrada a agendas corporativas e sociais, sendo abordada em programas de bem-estar e nas diretrizes de ESG (ambiental, social e governança)”, observa.
No contexto do trabalho, Patricia destaca que a discussão é crucial, especialmente ao considerar os fatores psicossociais, que desempenham um papel significativo na saúde mental dos trabalhadores. “Os fatores psicossociais no trabalho referem-se às condições organizacionais e interpessoais que podem impactar a saúde mental e física dos trabalhadores”, diz.
A especialista em Saúde Mental elenca alguns aspectos com potencial de impacto na saúde dos profissionais. Carga de trabalho excessiva, pouca ou nenhuma autonomia no trabalho, conflitos nas relações interpessoais, insegurança quanto à estabilidade no emprego, falta de valorização, dificuldade para equilibrar demandas pessoais e profissionais, clima organizacional propício ao assédio e convivência com lideranças autoritárias são alguns aspectos que merecem reflexões e mudanças.
Para Patricia Pessoa Pousa, a campanha Janeiro Branco também oferece uma oportunidade para que as empresas implementem ações efetivas.
“Um ponto essencial entre essas ações é a promoção da escuta ativa e suporte emocional. Neste sentido, criar canais de comunicação para que os trabalhadores possam expressar suas preocupações e buscar apoio é uma medida necessária”, afirma Patricia.
Análise e melhoria das condições de trabalho, com revisão da carga de trabalho, incentivo a pausas, preparação de gestores para identificar sinais de sofrimento mental e promover um ambiente acolhedor, estabelecimento de políticas de prevenção de assédio, de programas de bem-estar e apoio ao equilíbrio trabalho-vida, com promoção de políticas de home-office, licenças ou horários flexíveis também compõem o conjunto de ações, segundo Patricia Pessoa Pousa.
A garantia de acesso aos funcionários a estruturas de saúde de qualidade, por meio de parcerias e convênios médicos, serviços de apoio psicológico, academias, programas de bem-estar e práticas de saúde integradas são medidas associadas a bem-estar, equilíbrio e produtividade. Mas para que as empresas construam uma cultura promotora de saúde de forma efetiva, além das campanhas de conscientização sobre saúde mental, Gisele Caleffi aponta algumas práticas.
A psicóloga ressalta a importância de eliminar barreiras estruturais e práticas prejudiciais. A ação envolve a redução de reuniões desnecessárias, a melhoria de comunicação e ainda a erradicação do assédio nas organizações.
A redistribuição de poder e a desierarquização, na visão de Gisele, são fundamentais para redesenhar funções, revisar as estruturas de trabalho e o volume de demandas. A estas práticas, ela acrescenta ações de reconhecimento e remuneração equânimes, programas de letramento e conscientização sobre saúde, escuta ativa e empática e capacitação contínua.
“Esses são apenas alguns dos diversos elementos que, ao irem para além da conscientização, impactam diretamente o bem-estar e o engajamento dos colaboradores, traduzindo-se em uma cultura promotora de saúde”, diz Gisele Caleffi.
“É essencial que gestores e trabalhadores compreendam que a saúde mental não é apenas uma responsabilidade individual, mas também uma questão coletiva e organizacional. Ambientes de trabalho que consideram os fatores psicossociais podem não apenas prevenir adoecimentos mentais, como também melhorar a produtividade, reduzir o absenteísmo e aumentar a satisfação no trabalho”, finaliza Patricia Pessoa Pousa.
Fonte: Assessoria de Comunicação da ABRH-SP (06, janeiro de 2025)