O mundo mudou. O significado de liderar também. Por décadas, aprendemos que liderança era sinônimo de controle, comando e eficiência. Liderança boa era aquela que resolvia tudo, rápido e sozinho. Que batia metas e mantinha tudo sob controle. Mas controle de quê, exatamente?
Um estudo da Engaja S/A em 2024 com a FGV, apontou que 46% dos profissionais no Brasil não confiam em seus gestores. Entre executivos e seus líderes, a confiança é avaliada positivamente por 79%. Já entre os colaboradores sem cargo de liderança, apenas 44% compartilham dessa visão. Existe uma distância entre quem lidera e quem sente a liderança.
Com as mudanças aceleradas e a pressão por mais resultados com menos recursos, o emocional das pessoas entrou em colapso. O tempo sumiu. As empresas pedem inovação, entrega, performance. Mas e o líder, como fica no meio disso?
Ele escuta: “seja empático”, “humanize”, “escute com atenção”. Mas como fazer isso com a agenda lotada, o emocional em frangalhos e a cultura da empresa pedindo metas inalcançáveis com prazos absurdos?
Essa é a contradição que pressiona a liderança.
A coragem de virar a chave
Liderar com coragem é desafiar o piloto automático, rever o velho modelo mental e fazer escolhas conscientes. Olhar para dentro antes de apontar para fora e entender que liderar é, acima de tudo, afetar pessoas.
O Framework da Virada de Chave:
ANTES (Automático) → DEPOIS (Consciente)
Reagir por impulso → Pausar e escolher
Evitar conflitos → Abraçar conversas difíceis
Controlar pessoas → Influenciar comportamentos
Parecer forte → Ser autêntico e vulnerável
Resolver sozinho → Construir junto
Antes de qualquer interação, observe: você está agindo no automático ou de forma consciente? Se estiver no modo reativo, antes de qualquer resposta, respire, se escute, reconheça suas necessidades.
Seis atitudes que sinalizam a virada da chave:
- Reconheça seus próprios limites
Autopercepção é essencial para identificar se é o momento certo para agir ou se é preciso se recolher, respirar e se reorganizar. Isso não é fraqueza, é autocuidado.
- Encare conversas difíceis com verdade e respeito
Feedbacks exigem preparo, cuidado e intenção clara. Traga dados, evite suposições. Respeito é a base da confiança. Sendo assim, não precisa ter medo de “destruir” o relacionamento.
- Comunique com empatia e assertividade
Comunicação assertiva consciente é sobre falar a verdade, considerando o contexto, validando emoções e respeitando a dignidade do interlocutor. Fale com clareza e cuidado. Em vez de “sua apresentação foi fraca”, diga: “Seu conteúdo é forte. Como posso apoiar na clareza da apresentação?”
- Atitude vulnerável e humilde
Uma liderança que assume o erro e convoca o time para resolver juntos não perde autoridade, ganha confiança. Vulnerabilidade é ponte, não fraqueza.
- Diga “não” com consciência
Negar um pedido pode ser um ato de cuidado. Dizer “não” protege a qualidade, a saúde do time e os resultados. Mas cuide do como e do porquê.
- Humanize sem perder a autoridade
Humanizar não é ser permissivo, assim como cuidar das pessoas não é o oposto de cobrar. Humanizar é liderar com firmeza e cuidado. Cobrar com respeito. Construir segurança psicológica, confiança e pertencimento.
Quando um líder para de operar no automático e escolhe consciência, três viradas acontecem:
- Da reação para a resposta: Pondera decisões, respeita processos e pessoas envolvidas;
- Do controle para a influência: Engaja pelo exemplo, não pela imposição;
- Do automático para o intencional: Atua com propósito, alinhando valores pessoais, do time e da empresa.
Não existe fórmula mágica. A mudança de mentalidade começa por dentro: aprendendo a cuidar de si e da forma como se relaciona, ampliando o olhar sobre o que é performance e revendo o que realmente importa: resultados sustentáveis com pessoas saudáveis.
Porque o que está em jogo vai além de metas.
