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Neurociência e parentalidade: temas do Talk II do LIFE

Realizado na última quarta, o Talk II do LIFE, iniciativa promovida pela ABRH-SP com o apoio da ONU Mulheres e da BMI – Blue Management Institute, debateu as dimensões individual e familiar da liderança feminina durante webinar aberto ao público.

Participaram como palestrantes Carla Tieppo, neurocientista, professora e pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, e Camila Antunes, cofundadora da Filhos no Currículo, iniciativa que tem como objetivo decodificar os motivos que impedem muitas mulheres de permanecer ativas no mercado de trabalho. O sociólogo Gabriel Milanez, vice-presidente de Estratégia e Pesquisa da BOX1824, foi o moderador do webinar, que contou com o patrocínio Ouro do Santander e Prata da Egon Zehnder. Confira, a seguir, alguns destaques:

 

Perfume de Mulher

“No filme Perfume de Mulher, o personagem cego interpretado por Al Pacino diz que conhece as mulheres independentemente de poder vê-las, conhece pelo toque, pelo cheiro... Gostaria de falar do que é efetivamente o perfume de mulher, o que é exatamente ser mulher, se é que existe uma coisa só dentro desse universo do feminino. Mais do que uma característica única, o personagem naquele momento estava dizendo que é necessário ser muito observador e estar atento para perceber as nuances do feminino. Quando se trata de discutir a masculinidade, ela vem de diferentes formas. Os homens se entendem múltiplos. Tenho dúvida se isso também acontece na esfera do feminino. Escuto afirmativas que procuram generalizar: todas as mulheres sentirão o peso da potência da maternidade, são cuidadoras, gostam de rosa, isso está para lá de superado. No entanto, ainda vejo pessoas fazendo afirmativas não tão simples como essas, mas que poderiam estar próximas dessas, especialmente quando se fala de características cognitivas e executivas.” – Carla

 

Impacto do ambiente

“A parte mais elaborada do cérebro, que as pessoas genericamente chamam de massa inteligente, tem um desenvolvimento muito paulatino ao longo da vida. Ele começa a se conectar logo ao nascimento, mas só vai completar o desenvolvimento aos 21, 22 anos de idade. Dado o fato de que existe essa longa margem de processo de desenvolvimento, não é estranho pensar que boa parte desse desenvolvimento, que ocorre na puberdade, adolescência e jovem adulto, tem um impacto muito grande do ambiente. Seria estranho pensar que mesmo vivendo em um ambiente, aprendendo nesse ambiente e tendo como objetivo fundamental se adaptar a esse ambiente, que ele não tivesse nenhum tipo de impacto no desenvolvimento da estrutura responsável pela construção de comportamento. Apesar de serem encontradas diferenças estruturais, inclusive no cérebro de homens e mulheres, isso pode não estar determinado pela biologia. Esse é um ponto muito importante de a gente tratar nessa dimensão individual.” – Carla

 

Mais suscetíveis

“Quando você pega dois grupos de alunos do mesmo nível, mas de gêneros diferentes, e dá a eles provas de matemática, os meninos têm uma performance melhor. Agora, se você pegar esse grupo de meninas, subdividi-lo em dois e na hora de apresentar a prova disser para um dos grupos que se trata de algo simples, capaz de ser feito por qualquer pessoa, e, para o outro grupo, que se trata de uma prova complicada, curiosamente a performance é duas vezes melhor para quem você falou que a prova era fácil. Mulheres são muito suscetíveis ao que se pensa sobre elas, dentro desse conceito genérico do que é ser mulher. De cara a gente ouve que, por não termos força física, somos frágeis. Escutamos essas opiniões sobre a gente e isso acaba influenciando.” – Carla

 

Diferenças

“Existem diferenças no cérebro de homens e mulheres, mas não são tão simples de explicar. Essas diferenças, no entanto, acabam produzindo modelos de pensamentos diferentes. O mundo hegemonicamente considera o modelo de pensamento masculino como o correto.  Afinal de contas foi determinado pelos homens. Por fim, existem diferenças hormonais. Uma mulher pode experimentar diferentes momentos ao longo do mês, o que é mais raro de acontecer com os homens. Como o modelo é a estabilidade, é conseguir permanecer, se você oscila está errado. A literatura científica também é machista, também tem na sua base o gênero masculino, mas a gente tem na comunidade científica hoje uma enorme quantidade de pessoas trabalhando sobre essas questões das diferenças de gênero.” – Carla

 

Mãe perfeita

“A maternidade ronda meu imaginário muito antes de eu me tornar mãe. Perdi minha mãe aos 4 anos e esse lugar de perda me trouxe uma idealização de que poderia dar conta de tudo sozinha, seria uma mãe perfeita e, portanto, viveria uma relação de vínculo automática com os meus filhos, sem nenhum desafio, erro e conflito. Foi assim até me tornar uma mãe... Voltei ao trabalho – porque se espera que a gente tenha um filho e volte dizendo que nada mudou, tudo está bem – completamente desconectada e engravidei de novo. E aí a conta para mim não fechou mais emocionalmente. Minha filha começou a dar sinais de desafios de comportamento típicos da idade, e me vi muito autoritária, muito fracassada, muito agressiva. Pedi demissão grávida e o fracasso ficou completo até que entendi que esse não era um desafio só meu. Sentir-se sozinha e ter um filho como barreira acontece na carreira de muitas mulheres. Estudos mostram o efeito do degrau quebrado, que é a maternidade na carreira de muitas mulheres. Esse virou meu foco: falar sobre parentalidade e trazer essa perspectiva de desconstruir os vieses.” – Camila

 

Desafios na pandemia

“A gente fez um estudo junto com o movimento Mulheres 360 que mapeou as expectativas de pais e mães durante o período da pandemia para entender um pouco mais dos impactos desse cenário. O que a gente percebe é que, de fato, os pais de crianças pequenas, até 3 anos, foram os que mais tiveram a performance afetada. É um período muito crítico. Por mais que você queira colocar seu filho 10 horas na frente da tevê para poder trabalhar, isso não vai existir. Há, sim, um impacto na performance e a gente vê que conciliar filhos e carreira é o principal desafio, especialmente nesse cenário em que a rede de apoio (escola, creche, avós, funcionários) sumiu. Quem é mãe de criança pequena sabe que no mesmo dia, na mesma hora, a gente vive tudo ao mesmo tempo: está exausta e grata, feliz e cansada, estressada, mas aprendendo, uma montanha-russa durante o dia. Apesar disso, observarmos que 9 entre cada 10 pais e mães relataram que durante a pandemia houve um aumento no vínculo com os filhos. O que ficou comprovado também é que vida pessoal e profissional nunca foram apartadas. A gente nunca teve duas vidas. O que aprendo em casa, levo para o trabalho; e o que aprendo no trabalho, levo para casa. A gente sempre levou filho para o trabalho, seja porque as preocupações com nossos filhos estão na nossa cabeça, no nosso coração, e sempre levou o trabalho para casa, mas agora as paredes não existem mais. Isso também tornou possível falar um pouco sobre as tarefas invisíveis, sobre a quantidade de tarefas inerentes à criação de um filho. E a empresa não tem mais como fechar os olhos para isso. Não dá para achar legal que o filho passe na call e depois querer que ele suma e vá para debaixo do tapete. A gente precisa olhar para esse lugar.” – Camila.

Fonte: Assessoria de Comunicação ABRH-SP - 21  de Setembro de 2020

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