O limite é a criatividade humana
Executivo de Recursos Humanos aficionado por Tecnologia e Inovação, Marcelo Nóbrega é o entrevistado da seção RH Digital, que ouve semanalmente executivos de RH e gestores de pessoas para ampliar as reflexões sobre o tema da Transformação Digital no mundo do trabalho.
GESTÃO DE PESSOAS – Como a Transformação Digital tem mudado o RH de sua empresa?
MARCELO NÓBREGA (aqui ele fala sobre as inovações implantadas na Arcos Dourados/McDonald´s, onde até recentemente foi diretor de RH) – Uma das inovações implementadas nos últimos tempos foi um chatbot no Help Desk que esclarece as dúvidas dos funcionários sobre folha de pagamento, benefícios e outras questões do relacionamento dele com a empresa. Num primeiro momento, nossa expectativa era ganhar eficiência, pois muitas das perguntas são repetidas uma vez que boa parte do nosso quadro é de pessoas na sua primeira experiência de emprego. Como é de se esperar, várias questões são comuns a todos os que entram no mercado de trabalho. Para eles, obviamente, são importantes. Mas imagine o atendente do Help Desk dando as mesmas explicações repetidamente todos os dias. O chatbot faz isso sem se entediar e dando o mesmo nível de atenção a todos. Para nossa surpresa, o chatbot não apenas resolveu questões triviais e corriqueiras, como também melhorou o entendimento dos funcionários. Sentimos isso na complexidade das perguntas que passamos a receber. Os funcionários começaram a aprender com a Luíza, nosso chatbot. A interação com ela se tornou uma oportunidade de aprendizado. A experiência com os bots, porém, não parou por aí. A Luíza foi desenvolvida com o auxílio de uma consultoria e na forma tradicional que conduzimos grandes projetos corporativos. Tudo muito controlado, com equipe, objetivos, prazos e orçamentos bem definidos. Durante a implementação, nos demos conta de que estávamos sendo bem conservadores na adoção dessa nova tecnologia. A verdadeira ruptura veio quando resolvemos ensinar a equipe de RH a programar bots. Dessa forma, cada membro do time pode desenvolver seus próprios assistentes pessoais virtuais para ajudá-los nas tarefas do dia a dia. O que virá por aí? Difícil dizer. O limite é a criatividade humana.
GP – Na sua opinião, o que pode ser feito para preparar os trabalhadores para os impactos dessa Transformação Digital nos seus empregos e carreiras, evitando ampliar os índices de desemprego do país?
MN – Não é verdade que a tecnologia destrói empregos. Basta comparar o nível de desemprego e robotização do Brasil com aquele de países como Estados Unidos, Alemanha ou Japão para entender que essa questão é bem mais complexa. É óbvio que a tecnologia exige novas habilidades. E, em primeiro lugar, é dever de cada um de nós buscar esse aprendizado por conta própria continuamente. Por outro lado, vejo uma deficiência na educação básica que precisa ser resolvida nesse sentido. Disciplinas como matemática, estatística e programação (ou coding como se diz nos dias de hoje) devem ser aprofundadas. As empresas, claro, podem e devem ajudar nesse aprendizado. No entanto, se aprende pouco em sala de aula. Tampouco se trata de hard skills. O principal é o mindset correto para o aprendizado e o digital. Não se trata mais de uma tendência. É um movimento que não tem volta ou limites. É preciso buscar experiências, até corriqueiras, que ajudarão as pessoas a adotar o mindset correto, acostumar-se às novidades e, por fim, transformarem-se em agentes de mudança. Nem todas cumprirão todos os estágios, mas também não é necessário. Comece buscando informação em fontes inéditas para você. Leia revistas, converse com pessoas, vá a locais, frequente cursos que são inteiramente novos. Use tecnologia no seu dia a dia. Desligue a TV e ouça podcasts, assista vídeos no YouTube, leia livros digitais. Explore a infinidade de apps que existem para melhorar a sua produtividade. Faça um curso de coding, analytics ou marketing digital. E você não precisa gastar muito dinheiro com isso. Existem muitos cursos gratuitos on-line.