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Como lidar com o luto nas organizações foi tema de webinar inédito realizado pelas Regionais da ABRH-SP

Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados feito em parceria com o Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública da Universidade de Brasília, 86% dos brasileiros perderam algum conhecido por Covid-19 na atualidade. O impacto é ainda maior se pensarmos que uma morte pode gerar 10 enlutados. Ou seja, em razão das 500 mil mortes por Covid-19 até agora no Brasil, temos 5 milhões de pessoas enlutadas, sem mencionar aquelas que sofrem em razão de todas as outras perdas, por acidentes ou problemas de saúde. Apesar disso, os assuntos morte e luto ainda são um tabu, inclusive dentro das organizações. 

 

Para trazer o tema ao centro do debate, as Regionais Baixada Santista e Noroeste Paulista da ABRH-SP realizaram, no último dia 14, o webinar Como Lidar com o Luto nas Organizações. O evento contou com as participações dos especialistas em luto Juliana Tomé, psicóloga clínica e hospitalar, membro do Laboratório LUTE da USP-RP; Nichollas Martins Areco, psicólogo do setor de Oncologia e Hematologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP; e Tom Almeida, fundador do movimento inFinito. Paulo Queija, diretor da Regional Baixada Santista, e Fabíola Molina, vice-diretora da Regional Noroeste Paulista, moderaram o debate.

 

Segundo Juliana, o luto é uma quebra, algo que se partiu, uma conexão interrompida. É multidimensional, não apenas emocional/psicológico. É também físico (a gente sente muito cansaço porque o luto exige um grande gasto de energia, temos dores no corpo, doenças inflamatórias); social (de repente a função na família e o papel na sociedade mudam); e espiritual (precisamos ter fé em qualquer forma de beleza para suportar o luto, como diria o poeta Rainer Maria Rilke).

 

“Porém, podemos nos refazer no processo do luto, mesmo que haja uma cicatriz no coração e na alma. E a gente pode fazer isso de muitas maneiras”, explicou a psicóloga. “Cada luto é único. Não há receita de como vivenciá-lo. Entretanto, repentinamente, no caos, algo começa a se reorganizar, novas possibilidades aparecem como sentimentos, movimentos, imagens, ideias ou sonhos. Então vem o processo de aceitação, que não quer dizer que tenho de me resignar diante do que está acontecendo, mas entender que essa é a minha realidade e o que eu posso fazer a partir disso, como posso me adaptar para estar nesse novo mundo.” 

 

Não se trata, porém, de um tema simples, justamente porque o entendemos como um tabu. “Será que estamos preparados para lidar com aquilo que é mais genuíno na nossa existência, que é a morte? Ou encaramos a morte no sentido de ser uma grande condenação que todos nós tentamos a todo momento não lidar? E o que fazemos com essa morte?”, questionou Nichollas. 

 

Para o psicólogo, não estamos mais acostumados a entender que morrer é um processo que vai se dar naturalmente. Antigamente, os velórios eram feitos nas casas, mas nós os empurramos para longe da nossa convivência, em espaços de velórios e hospitais. Também temos uma série de ilusões contemporâneas. Por que ter êxito na vida seria casar e ter filhos? Uma pessoa que viveu 7 anos tem uma vida menos incompleta e inferior àquela que viveu 90 e tantos anos, teve filhos e netos? Será que não estamos falando que a vida é um atender a essas expectativas?

 

Na opinião de Nichollas, o mundo do trabalho e as organizações, mesmo as hospitalares, não conseguem ainda lidar com uma demanda crescente de uma classe trabalhadores adoecida. “É importante entender que várias coisas foram rompidas. Há uma sobrecarga de tarefas e uma falta de compreensão de que esses trabalhadores precisam de um tempo para o diálogo, para o acolhimento, para chorar junto”, enfatizou. Como lidar com isso, então? “Precisamos de pausa, de calma, de tempo, de comunicação e de habilidades psicossociais para digerir e nos adaptarmos a esse novo mundo e a esses novos papéis que se abrem.”

 

Impactos

A morte pela Covid-19 é similar à morte por acidente ou catástrofe. O impacto desse tipo de luto pode acarretar problemas com sono, ansiedade, falta de foco, irritabilidade, tristeza e depressão. “Serão necessárias muitas intervenções a longo prazo para acolher e preparar a população para atravessar este enorme desafio. Pesquisas apontam que o impacto desse luto vai ser sentido pelos próximos dez anos e até pelas próximas gerações porque as crianças vão crescer sem avós e sem os pais”, alertou Tom. “Só será possível atravessar este desafio com o apoio das corporações cuidando dos seus colaboradores e se associando a movimentos da sociedade civil e independentes.” 

 

Mas como fazer isso? Para Tom, é fundamental pensar em como tornar natural falar sobre a morte e o luto. Entretanto, naturalizar não significa banalizar. É passar da apatia (eu não me importo) para a simpatia (eu sinto muito), para a empatia (eu entendo você) e para a compaixão (eu quero ajudar você). Esse processo de as empresas pensarem em alguma forma de acolhimento para os seus colaboradores é o processo de compaixão. Não virar as costas para o sofrimento. Como eu vou fazer para acolher essas pessoas? Como eu vou cuidar para que elas estejam saudáveis para produzir?

 

Uma forma de naturalizar o tema dentro das organizações é trabalhar os cargos de C-level e senior management com foco em inspirar a transformação, sensibilizá-los ao tema, fazendo com que desenvolvam recursos intelectuais e emocionais internos e habilidades mínimas de acolhimento. Para o middle management e base, isso pode ser feito por meio de acesso a conteúdos sobre o assunto, criação de espaços de conversa e redes de acolhimento, além da divulgação de modelos inspiradores e de muitas informações. 

 

“É preciso tirar a morte e o luto do armário”, assinalou Tom, que compartilhou um roteiro para a implementação de um programa de acolhimento no ambiente corporativo:

 

1 - Crie um Plano de Ação em Caso de Morte, que preveja a elaboração de comunicados e modelos de mensagens, possibilidades de orientação burocrática, gestos de carinho, treinamento de líderes, estabelecimento de espaços seguros para o luto e a terminalidade, e a promoção de rituais de homenagem coletiva.

 

2 - Promova o acesso a conteúdo, com a criação de repertório para colaboradores (agenda de encontros e palestras, geração de conteúdos para redes sociais e materiais de suporte).

 

3 - Invista na capacitação (promova grupos de escuta, capacite as lideranças para acolhimento ao luto e crie materiais).

 

Fonte: Assessoria de Comunicação ABRH-SP (28 de Junho de 2021)

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