Fórum destacou a importância da diversidade nas organizações
Promovido pela ABRH-SP há oito anos, o Fórum Inclusão da Diversidade teve a edição 2020 realizada pela primeira vez 100% online e de maneira inclusiva, com intérpretes de libras na totalidade das atividades e descrição para cegos. Realizado de 3 a 6 de novembro, o evento promoveu, por meio de painéis de debate, palestras, cursos masterclass e salas de networking, uma reflexão ampla sobre a questão da diversidade e inclusão de todos, independentemente de suas características pessoais, dando ênfase ao que diz respeito à raça, etariedade, LGBTQI+ e pessoas com deficiência.
Grandes vozes da diversidade falaram no fórum. Um dos destaques foi a palestra magna, da filósofa, feminista negra e acadêmica Djamila Ribeiro, colunista do jornal Folha de S.Paulo e autora do Pequeno Manual Antirracista, livro que chegou ao primeiro lugar na lista dos mais vendidos de não ficção no Brasil. Djamila falou sobre a importância da diversidade nas organizações, com a moderação da consultora Jorgete Lemos, sócia-fundadora da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços.
Como ela ressaltou, existem duas justificativas para a adoção da promoção das políticas de diversidade nas empresas: uma é a questão ética da responsabilidade social, de entender o contexto do Brasil como país desigual e criar medidas para incluir aquelas populações que historicamente foram alijadas de certos direitos. O segundo argumento é o econômico. As pesquisas mostram que um ambiente mais diverso gera muito mais lucro para as empresas, porque elas ganham em inovação e criatividade.
Um grupo homogêneo, como explicou Djamila, vai ter muita dificuldade de atender às demandas de um mercado cada vez mais multicultural. “Se a pessoa convive em um único meio social, com gente muito parecida e na mesma situação econômica, vai naturalizar que somente essas pessoas têm condições de ocupar determinados espaços. Se ela não vê o mundo a partir de outras perspectivas e histórias, acaba tendo uma visão muito limitada desse mundo.”
Um ponto importante, para ela, é entender a nossa responsabilidade como sociedade na criação desses espaços de inserção. “Quando pensamos na promoção de políticas de diversidade dentro das empresas, é importante existir um plano de metas – em quanto tempo contrataremos um número de pessoas que vêm da periferia, em quanto tempo contrataremos negros, isso tem de ser estipulado. Outro ponto fundamental é o nosso olhar que precisa de fato mudar. Ao anunciar uma vaga para somente universidades ditas de elite, que tipo de pessoas vão se candidatar? Se se exige inglês fluente, num país que poder fazer um curso de idioma está ligado à condição econômica, quais pessoas vão se candidatar a essa vaga?”.
Mais uma questão fundamental é olhar para quem vai fazer uma entrevista de emprego, porque, às vezes, por não ter contato com aquele grupo, a pessoa reproduz visões estereotipadas. A mudança exige um processo de desconstrução, de desaprender certas visões de mundo para olhar para as pessoas de maneira mais humanizada.
“É a questão da empatia, mas eu entendo empatia não como algo espontâneo, mas um processo, uma construção intelectual que vai orientar a nossa prática”, disse Djamila. “Não preciso fazer parte de um grupo social para impactar positivamente aquele grupo, muito pelo contrário, mas isso passa por um processo de construção intelectual, por ler e estudar para entender qual é a realidade do nosso país de fato. O Brasil é a maior nação negra fora da África, um dos países mais desiguais do mundo, tem alto índice de violência para com a população negra e as mulheres. Entender essa realidade é fundamental para ter mecanismos e instrumentos que orientem a nossa prática, porque aí a gente vai saber o que fazer, vai saber quem procurar e como fazer”, recomendou.
O MPT e as ações afirmativas
A Dra. Valdirene Assis, procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT), abordou a importância das ações afirmativas na promoção da igualdade racial. Ela falou do projeto nacional do MPT de inclusão de jovens negros e negras universitários no mercado de trabalho. Esta palestra magna também foi moderada por Jorgete Lemos.
O projeto teve início em 2017 quando o MPT começou a ouvir movimentos negros, sindicatos, trabalhadores e trabalhadoras em geral, empresas, organismos internacionais, outras instituições do direito público, universidades e segmentos para instrumentalizar uma ação de cunho verdadeiramente potente nessa área. “A partir daí, a gente entendeu que os jovens negros e negras já estavam dentro do espaço universitário, de uma forma muito expressiva, através das políticas públicas e das ações afirmativas desenvolvidas pelo poder público, como cotas raciais e financiamentos estudantis. Essa curva ascendente de ingresso desses jovens no espaço universitário, porém, não se refletia no mercado de trabalho. Havia, portanto, um descompasso a se equacionar”, ela lembrou.
De acordo com a procuradora, a escolha dos jovens passou não só por essa questão estatística do seu ingresso nas universidades, mas também por uma perspectiva de buscar a inclusão deles nos extratos muito privilegiados do organograma das empresas. Para tanto, o programa começou a trabalhar com três segmentos: agências de publicidade, muito estratégicas porque têm o poder de propagar essa mensagem no mundo do trabalho como nenhum outro setor tem; a advocacia – menos de 1% dos advogados e advogadas que integram as grandes bancas do nosso país são pessoas negras; e o setor empresarial, que, do ponto de vista estatístico, é o que mais emprega e portanto seria o eixo principal do trabalho. Além disso, é um setor com baixa representatividade de pessoas negras em postos de mando e gestão.
“Em 2018, começamos a dizer às empresas que as ações afirmativas na iniciativa privada são essenciais. Não há como você de fato trabalhar com uma noção de responsabilidade social, de sustentabilidade, não há como, dentro da esfera jurídica, estar em harmonia com tudo o que você diz comungar enquanto defesa de constituição, do princípio do estado democrático de direito, se não tem ações voltadas ao enfrentamento das desigualdades sociais crônicas, históricas, poderosas e que afetam a maioria da população do país. Estamos atrasadíssimos, mas o MPT tem a alegria de ser um dos agentes que está impulsionando esse debate”, concluiu.
Fonte: Assessoria de Comunicação ABRH-SP (16 de Novembro de 2020)