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Humanização do trabalho versus precificação da diversidade

Com o tema central Evoluir e Humanizar para Incluir, a nona edição do Fórum Inclusão da Diversidade, promovido pela ABRH-SP, aconteceu na semana passada. Na abertura oficial do evento, realizada no dia 18, o presidente da Associação, Guilherme Cavalieri, fez um apelo aos profissionais de RH: “Estamos abrindo este fórum seguramente em um dos momentos mais delicados do nosso país nos últimos anos. Graças ao trabalho fantástico de cientistas de todo o mundo, foram desenvolvidas vacinas eficazes que estão permitindo que nossas vidas retornem gradualmente à normalidade. Por outro lado, nosso país atravessa uma crise agravada, sem dúvida, pela pandemia e que está atingindo proporções alarmantes do ponto de vista social. Não podemos desconsiderar, ao abrir este fórum sobre inclusão, que temos milhões de brasileiros que vivem na exclusão de um simples prato de comida. Portanto, ao falarmos de diversidade e inclusão ao longo desta semana, temos sempre que lembrar desses seres humanos iguais a nós. Não podemos dormir com a consciência tranquila enquanto milhões dormem nas ruas e passam fome. Isso é inaceitável. Cada um de nós tem de fazer o máximo que estiver ao alcance para reduzir esse dramático problema. Individual e coletivamente, conseguiremos reverter essa situação. Esse é o meu apelo a cada um de vocês”.

Na sequência, Guilherme moderou o painel Humanização do Trabalho versus Precificação da Diversidade, que teve a participação de dois craques na temática da diversidade e inclusão: Jorgete Lemos, fundadora e diretora executiva da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços, e Reinaldo Bulgarelli, sócio-diretor da Txai Consultoria e Educação. Leia, a seguir, o que eles falaram:

O certo a ser feito

Jorgete ressaltou que a diversidade já está presente em qualquer organização humana, o que falta é tê-la incluída com equidade, e essa inclusão com equidade é fundamental para reduzir a desigualdade social que nos assola e impacta o desenvolvimento humano e o crescimento dos negócios. “Nas empresas, somos microsistemas interagindo com sistemas maiores. A nós importa, sim, a exclusão e suas consequências. O ideal seria o reconhecimento de que a diversidade está em nós e nos aproxima uns dos outros, porque entendemos que ela nos complementa, enriquece pelos saberes e experiências trazidos no burburinho das interações.”

Para ela, a preocupação com a justificativa da diversidade e inclusão com equidade atrelada a resultados financeiros é legítima. “O pensamento de Einstein, ‘o sucesso é consequência ́, me fez, por analogia, reforçar o entendimento de que resultados tangíveis para as organizações são consequência dos investimentos realizados em gente. Precisamos rever o modelo mental que sustenta a tese de que as empresas esperam essa argumentação financeira. Elas também esperam que não esqueçamos de que estamos falando com seres humanos, que esses seres têm sensibilidade e precisam ser sensibilizados também pelos seus sentimentos, não só pela razão, pela demonstração de lucratividade, etc.”

Jorgete deu números impressionantes da desigualdade no Brasil: hoje a pobreza no país é representada por 52 milhões de pessoas. São 39 milhões em estado de pobreza e 13 milhões em extrema pobreza. E essas pessoas têm cor: são pretas e pardas. O Brasil é o sexto país com maior população no mundo e ocupa o segundo lugar em concentração de renda entre mais de 180 países e está entre os 10 países mais desiguais do mundo. A concentração de riqueza, porém, é apenas a ponta do iceberg da desumanização.

Dessa forma, continuou Jorgete, é dever dos profissionais de gestão de pessoas auxiliar os colaboradores em todos os níveis nas organizações para repensarem os seus valores. Aqueles que ainda estão pautando a vida em valores destrutivos precisam muito do acolhimento e da atenção para que possam realinhá-los aos valores da nova era. Normalmente, o preço das coisas é atribuído pela aparência, pela utilidade e pela estética, mas é preciso conhecer as pessoas mais profundamente. Conhecer seus valores, seus princípios, sua ética, sua cultura, sua história, suas dores…

“Quando vemos a exposição pública de mulheres superssexualizadas; do idoso como uma pessoa inferior e inerte; dos negros, pretos e pardos como seres marginais e aterrorizadores; quando vemos a imagem da pessoa com deficiencia como incapaz; dos LGBTQIA+ como doentes e passíveis de cura, tudo isso se refere a um processo de desqualificação muito bem arquitetado para coisificar os seres humanos a fim de que permaneçam em um patamar inferior na nossa sociedade, servindo de alavanca para outros que lá querem se manter através de privilégios, porque representam a heteronormatividade e o eurocentrismo”, alertou. “Não podemos desacreditar: a organização é humana e seus representantes, que falam em nome dela, são seres humanos humanizados, que podem e devem entender a inclusão da diversidade com equidade, porque é o certo a ser feito.”

Somos parte do problema e parte da solução

“Está havendo um consenso de acrescentar o termo equidade àquilo que há muitos anos a gente chamava de diversidade e inclusão”, assinalou Reinaldo. “Neste país de desigualdade construída em cima de características, não se trata de uma desigualdade qualquer. As características são o motivo principal da desigualdade e de violências de todo o tipo. Entretanto, somos parte do problema e parte da solução como profissionais das empresas e como lideranças. Tem um monte de coisa bacana que a gente faz, sabe fazer e tem de ser colocado a serviço desse enfrentamento das desigualdades que estão aí baseadas nas características.”

Segundo ele, quando o tema da diversidade e inclusão, lá nos anos 1990, entrou para as práticas de responsabilidade social empresarial foi sob a ótica dos direitos humanos. “Eu gosto de lembrar o artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos: ‘Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos’. Quando você olha para fora, para o Brasil, tem vários motivos para investir em diversidade e inclusão. Quando você olha para dentro, para os negócios, os motivos são os desafios da inovação, de criar diferenciais não só competitivos, mas também significativos. Entretanto, o motivo básico, estruturante, é porque é a coisa certa a fazer, como bem disse a Jorgete.”

Na visão de Reinaldo, o resultado, como o próprio nome diz, resulta do investimento nessa dinâmica que prioriza as pessoas. São elas que fazem produtos e serviços, e se relacionam com todos os stakeholders. O resultado é, portanto, fruto desse investimento na gestão, numa dinâmica que produza respeito às pessoas e sobretudo aos direitos humanos como algo incondicional. “Com isso, conseguimos nos posicionar nesse mundo sem ter medo. Se vamos desagradar alguém ao colocar os direitos humanos como base da nossa organização, tudo bem, porque nós temos firmeza e compromisso”, concluiu.

Fonte: Assessoria de Comunicação ABRH-SP (25 de Outubro de 2021)

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