Eduardo Migliano
Pensa numa pessoa preguiçosa. Não eu. Outra. Para mim, é o cara ou a mina que inventou o Waze. Me explico. Você está lá, feliz, dirigindo, quando ouve o maldito sonzinho avisando que errou o caminho. Você quer morrer só de pensar nisso, afinal, quando a moça fala “recalculando a rota”, ela quer dizer: “vamos dar uma pequena volta ao mundo, ok?”
Esse que não deixa de ser um desgaste emocional é causado porque alguém, muito preguiçoso, decidiu que você precisaria de um guia em absolutamente todos os momentos e decisões (incluindo o trajeto casa>padoca>casa) e te condicionou a achar que errar o caminho é a pior coisa do mundo.
Brincadeiras à parte, sinto que muitos de nós sofrem uma “wazerização” da vida. Em vez de escolher nossos caminhos, fugimos a todo custo de correr riscos e esperamos que alguém sempre nos diga o que fazer. Ignoramos nossa bagagem de vida, nossa intuição, as experiências vividas e as observadas.
Se existe uma voz que vai te dizer quando e onde virar – e até mesmo o que virar –, essa voz é sua. Pelo menos é o que eu aprendi depois de muitas rotas erradas que ninguém recalculou por mim. O que não quer dizer que você está sozinho(a) nesse mundo. Isso nunca.
Significa que, entre esperar seu 3G ressuscitar e abaixar o vidro pra perguntar onde fica tal lugar, abaixe o vidro e pergunte. Digo mais: se a resposta que vier se parecer com “não moro aqui, desculpa”, vai fazendo sua parte, que uma hora você chega. Nem que seja à noite, para o jantar. E tem hora mais propícia para um brinde? Talvez porque a hora mais escura seja a que precede o amanhecer.
Mas, cuidado. Porque, quando a gente finalmente respira aliviado e tira a mão do volante, vem o Waze e te diz: “você chegou ao seu destino”. E nessa fala temos uma armadilhazinha…
Não acho que o destino seja um lugar onde se chega, acredito que é muito mais os lugares por onde você passa. As paisagens que te comovem. Os becos de onde você quer correr. O destino, tenho visto, é bem mais encontrar uma vaga no estacionamento do shopping num sábado à tarde do que largar a chave na mão do manobrista.
Tendências globais de mobilidade urbana à parte, acho mesmo que o destino é ir de ônibus. Ônibus. Muita gente querendo ir para o mesmo lugar. Algumas descem no caminho, mas todas chegam. E o ônibus quase nunca para no seu destino final. Você ainda vai ter que caminhar. E aí é hora de ouvir seu “Waze interior” te dizendo para onde ir.
*Cofundador da startup 99Jobs.com e integrante do comitê de criação do CONARH 2017
Fonte: O Estado de São Paulo, 15 de Junho de 2017
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