HeForShe: um caminho sem volta
Destacamos aqui o depoimento emocionante de duas mulheres que estão à frente na luta pela igualdade de gêneros e que tiveram a missão de inspirar a plateia a adotar o lema: “Um caminho sem Volta”, na primeira edição do CONALIFE.
É como se tivesse que pedalar na subida.” Foi essa uma das frases que Alcione Albanese, criadora da ONG Amigos do Bem e fundadora da FLC Lâmpadas, usou para definir sua trajetória. Aos sete anos começou a fazer rifa com os presentes de aniversário que ganhava para conseguir dinheiro para seus pequenos projetos. Abriu o primeiro negócio antes dos 20 anos: uma confecção que deu emprego a mais de 80 pessoas. Achou que precisava ir além. Comprou uma loja de eletrônicos, num território dominado pelos homens: a rua Santa Ifigênia. Venceu o preconceito “todos se tornaram amigos”, relembra.
Não parou. “Quis ir para a China em 92, e fui sozinha. Queria trazer lâmpadas fluorescentes, que eram novidade, para o Brasil. Para alcançar o sucesso precisa ser persistente. Cheguei lá procurando indústrias. Três dias e nada. No quarto dia, vi as ‘páginas amarelas’ e pedi para o pessoal da recepção me ajudar. Comecei a mandar fax e esperava respostas. Vieram. Chegaram ao Brasil 33 mil lâmpadas que não funcionaram. Voltei para lá. E trouxe fluorescentes e econômicas. Desde então, foram 71 viagens à China. Ser persistente quer dizer que nunca aceitei não dá. Não aceitar as coisas mais ou menos. Nem aceitar ser mais ou menos.”
Além de ser persistente, ela acrescenta: “Precisa construir pontes e ponte a gente constrói com humildade. Não é o dinheiro. São os amigos. Quando nos aproximamos do coração das pessoas criamos um vínculo”. Outra característica de sucesso, segundo Alcione, é semear transformação. “Quando a gente se envolve todo resultado da equipe é maior. Deixei a empresa que fundei para me dedicar aos Amigos do Bem. E para recomeçar é preciso pegar a folha em branco e deixar tudo para trás, se não a gente não tem forças e fica preso no passado.”
Oito a dez milhões de mulheres estão empreendendo no Brasil. Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, fez questão de relembrar três das motivações. “A primeira é que elas estão com filhos pequenos e não se sentem em um ambiente acolhedor para viver esse momento com mais flexibilidade. Segundo grande motivador é para as mulheres mais maduras, acima de 45 anos, e que o mundo corporativo não absorve mais. Terceira e que vem crescendo cada vez mais: jovens que não se identificam no mundo corporativo e querem construir um sonho.”
Há nove anos à frente da Rede, ela já sabe a resposta mais frequente à pergunta: “O que, no seu ambiente familiar, mais te motiva a empreender? Os maridos”. A atitude HeForShe começa em casa.
( Texto publicado pela Folha de Alphaville, em 1 de julho de 2016, na página da ABRH-SP)